quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Toque


Não busco na sombra do destino
O rasto de um sopro que eras tu
O aroma do teu corpo deslizante
O sabor de um momento que foi nosso

Um ventre onde ancorava a minha barca
O aconchego da memória inoportuna
Dos lábios onde cabia o desejo

O som de cítaras vibrando
Num melódico trecho musical
Interpretado por solista virtuoso
Que mesmo num desempenho divinal
Sucumbia ao prazer de imaginar
O solo mais pungente conhecido
O murmurado som da tua voz

Busco num cenário conhecido
Que me leva a um estado divinal
E tudo que se diga é desigual
Ao toque das tuas mãos nas minhas

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Miragem


À luz da lua que brilhou no teu deserto
Que iluminava um oásis que era meu
E verde como a esperança alimentava
Um desejo que vendia esperança

Dispo-me de toda a amargura
Da seara que cresceu em peito aberto
Do centeio que a ceifa prometeu
E de tudo o que um dia era meu

Mas as cores também vacilam
A luz, mesmo a mais forte desvanece
Difusa torna-te distante
E o oásis que era o fim do teu caminho
Funde-se na ilusão de um destino
Pura miragem, desatino

E aí te mantém, perdido, errante 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Sinais dos tempos





Sempre sabe a pouco a virtude
Opulenta que pareça e desabrida
Mesmo que em bandeja oferecida

Mansa dádiva em mão estendida
Sempre será mais vistosa e pretendida
A lábia e trôpega falácia

A que floresce em meninos de carreira
Exorta sempre a verborreia
Resulta como nada em estrumeira
E descamba no final em implosão

Nada a poderia sustentar
Oca, vaga, de lascar
Alimenta simplesmente a ilusão
Do ciclo da burrice propagar

Mas quando de madura cai
É sempre em vão