domingo, 30 de junho de 2013

Entrega


Vejo-te na linha do horizonte
Recortada num cenário de saudade
Longe da vertigem
Entranhada na luz do pensamento

Perto do desejo
Penetrada pelo fogo do tormento

Sensual rodopiando no desfiar do tempo
Vivendo em mim sem visto
Nem salvo conduto

Apoderando-se do ultimo reduto
Tudo tomas, tudo usas
E eu estranhando porque não abusas
Tudo te entrego
Rogo em preces mudas

Que seja sempre teu
O que me preenche
 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Intemporal




Sem controlo
os dias esgotam-se
na ilusão da intemporalidade
deslizam entre as rugas da existência
correm que nem loucos
perdidos
nesse desfiladeiro enganador
que é a vivência temporal

Vivemos o que nos deixam
e um dia, diz-se,
morreremos como os demais.

O que se assemelha a uma sina
é talvez o mote da existência:
produzir, criar, amar e viver
pois certa, certa, só a vida
e intemporal, a lembrança.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Olhos





Se os olhos contassem a tua história
Não traíssem como o fazem sem querer
Lembrassem tempos em que foste liberdade
Soubessem de que cor é a vontade

Interpretassem o murmúrio do desejo,
o que dizem lábios finos a tremer
Decifrassem o rubor do amor ardente
Mostrassem como é a dor da ausência
reflexo e espelho da saudade

Mentissem num não que era sim

Tudo isso é o seu poder
Soberania em duas esferas compactada
O supremo sentido do sentir
a mais pura face da verdade
Ecrã onde a alma é projetada

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ao leme



Queres-me um barco em mar sem vagas
Num porto onde descansa a valentia
Ancorado na solidez do sentimento
Pela excitação dos sonhos tripulado

Eu que o cabo das tormentas não dobrei
E a esperança persisto em rodear
Ao leme de uma balsa de resgate
Sem bússola nem estrela polar 

Sulcando mares, buscando a sedução
Que o vento da ousadia abandonou
Rasgo as mãos remando sem cessar
Rumando, ao teu farol, ao teu regaço

Com um sentido que requer orientação
Entre os polos navegando sem cessar