segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Alegoria




Num tempo em que vil era o encanto
E atroz voava a tirania
De ter no regaço o amargo pranto
Que jorrava pela alma em letargia

Letal era também o sentimento
De saber que o nunca era tardio
Pois que sempre havia leve esperança
De poder colher, nem que ténue
A lembrança
E com ela viver em harmonia

Mas noite como breu era o escuro
De dias que acabavam sem alento
Com eles voltava triste alegoria
De um tempo que foi só noite e sofrimento

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Colheita de Incertezas




Se o primeiro livro nos marca, o segundo traz-nos ainda mais alegria pela consolidação do caminho antes iniciado, criando uma maior responsabilidade e esperança para os tempos que se seguem.

Surge assim, Colheita de Incertezas, o meu próximo livro, um romance centrado no Douro, que será apresentado no próximo mês.
Brevemente divulgarei aqui mais novidades.

Armando Sena

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Centelha


Esguio o calor que se desprende
Amaina mas não verga o tremor
Solta a vontade do momento
Mas lento anima a tímida dor

Efémero foi também o sentimento
Que fez brotar de novo verde esperança
Ergueu-se mais, deu-lhe livrança
Criou-lhe a própria emancipação
Sob o perene medo que escondia
De trazer de novo à luz do dia
A centelha que o desencanto ilumina
No outono desse descontentamento

Provocou a erupção da nostalgia
Dominante e cheia de fulgor
Levando a que a sempre eterna dor
Perceba que há um dia em que termina



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Estado da Nação




Agora que se estende a mão do vento
E pródiga te surge a crispação
Tudo de novo te recorda
O que foste nessa vasta imensidão
Das searas em que ceifaste ilusões
Cujo adubo eram sonhos começados
Que as pragas lentamente anteciparam
E as colheitas apenas confirmaram
Que o fruto era falho de sustento
E da alma te levou todo o alento

Nada mais que a eterna nostalgia
De deixar mais uma vez nesse pousio
O que antes solo fértil tinha sido
E agora entre o cheiro a bravio
Tão só azia e larvas produzia

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Lucidez




Não quero que os meus erros flutuem
para nunca se esquecerem, como sempre
se um dia houve, não um somente,
em que tão só a dúvida persistiu

Breve, leve, seguiu com a corrente
desdenhada, enjeitada, assim partiu
mas como morta ainda não estava
foi fácil e instantâneo o seu brotar

O espanto de então a ver voltar
questionar se a dúvida é legítima,
se tudo é mera ficção
ou certeza será apenas recordar

E para lá do infinito horizonte
onde tédio e medo se escondem
aí ela persiste em resistir,
na firme e inabalável sensatez
que a certeza reside em duvidar