domingo, 6 de maio de 2012

Colheita




"Recordava os tempos arrebatadores no Alentejo e as palavras que docemente lhe tinha sussurrado ao ouvido na esplanada do hotel onde estavam alojados.

Nada mais que uma sobremesa alentejana, num doce e sedutor vagar da planície, por entre searas de trigo verdejante sob os diáfanos raios solares do fim do dia.
A taça de sericaia numa mão e toda a vontade do mundo no corpo.
Permaneceríamos aí, tempos infindáveis a olhar o céu, até que as estrelas dessem lugar a novos raios de sol, estes, indicadores de um futuro brilhante, como brilhante é o sol sobre a seara.

Então, sob o bater das acácias nas tuas costas, descerias suavemente sobre mim.
A tua respiração ofegante, aliada aos pequenos gritos libertos na ternura da planície, pintariam com traços de desejo o quadro onde a vontade nos tinha colocado.

E a memória foi ocupada a cem por cento pelo sorriso rasgado de Margarida, admirada pela veia poética dele.

Depois, bem, depois começaram os escolhos, obstáculos hercúleos, que a vida tem destas coisas."

Excerto.

1 comentário:

trepadeira disse...

E os escolhos da vida são vencidos com novos gritos na planície.

Um abraço,
mário