segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Viagem



"Ouvindo o apito emitido pelo comboio, avisando de que era tempo de partir, aproveitou também a deixa e diligente dirigiu-se para a carruagem onde tinha deixado as suas coisas.
Com um sorriso, estendeu-se à vontade num banco de três pessoas todo para si.
Sabia que a seguir parariam na Rede, do lado esquerdo veria o verde das encostas, o xisto dos socalcos, os cruzeiros do Douro vendendo ilusões, os carros a serpentear na estrada uns metros abaixo. O sol, o mais brilhante sol do seu mundo refletindo os seus raios nas pedras dos vinhedos, dando de forma leal o seu contributo para a criação do mais nobre dos néctares.
A seguir viria o fresco trazido pela verdejante paisagem do concelho de Baião, depois o Tâmega…
Nesta parte já o sono tomava conta do mapa turístico que era a sua cabeça. O sono, que nem a vontade e a certeza quase absoluta do paraíso, conseguia vencer."

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Apetece-me




Apetece-me escrever,
Passar às letras o que aqui dentro vou desfiando
Aliviar a carga
Acrescentar ao dito, ao escrito
Pensar que escrevendo
Vou libertando,
E seguindo nas asas da pena
As penas me escorregam pelas letras.
Apetece-me escrever!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Perspectiva




Perspectiva que de uma forma ou de outra te encaminha,
te ilude, te engana, te tendencia.
Por caminho ou carreiro, a um nível mais elevado
Pela areia oblíquo ou concorrente
com rasto de um descalço pungente.

Ao longe, a miragem, a desenvoltura da liberdade
O rebentar de uma onda, o sonho do vazio
A procura do escape
A ignorância como busca do saber!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Noturno


Agora que os dias se vão e as noites se alongam, ficam ainda na memória as cores quentes das efémeras noites de Verão. Do ritmo das luzes ao brilho da estrada, das casas onde já houve vida e das vidas onde já houve histórias.
De tudo isto se fez a vida, de todas as vivências se fazem os momentos, que embalando-nos nos ludibriam no efémero caminho para o infinito.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Insurreição


Sim. Se me perguntarem o porquê de me insurgir contra a leve brisa que sem querer, sem nada fazer para o provocar, desgrenha e descompõe o que não lhe pertence. Imiscui-se e aventura-se pelo que é alheio e em desalinhado desvario o pânico provoca. Se me perguntarem se é meu esse direito e que fiz eu para o merecer, que prazer, que vontade essa de me ludibriar a mim próprio e questionando o que é natural, me sentir empurrado para a indefinição.
Que sorte, que provocação, quem me mandou a mim mesmo questionar-me. E porquê a brisa, essa bem amada e inefável criatura? A que nos ameniza a tortura do tórrido calor de verão.
......
Excerto...