quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Do sagrado e do profano



Neste lento e pachorrento período
que medeia o Natal e o novo ano.
Tempo em que se festeja o sagrado e se vive o profano.
Por entre o alegre reflexo branco das geadas,
o cinzento do melancólico nevoeiro,
no extremo sem fim do fim do ano,
se divisa o tempo que acabou.
Mas é frio, muito frio.
Ao longe, fica o longe das coisas quentes.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Solidariedade ou o sapatinho do Menino




"No meio deste cenário estava Tiago. Por entre os dedos definhava lentamente mais um cigarro, o terceiro do segundo maço de hoje. Este, o não oficial, escondido na meia direita. O outro, o oficial, entre os fumados e os cravados, tinha acabado logo a seguir ao almoço.
Na rua interior do complexo, para além das visitas circunstanciais, caminhavam sem rumo nem nexo alguns dos companheiros de infortúnio. Incessante e insistentemente pediam algo: uma moeda, um cigarro, um café, qualquer coisa, quanto mais não fosse para chamar a atenção.
Rostos marcados pelo drama, olhares vazios, expressões de desalento ou de puro frenesim, consoante as circunstâncias. De qualquer forma, por todos eles se sentia uma franca, estranha e até incompreensível solidariedade."

Armando Sena

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Rasteira



De fobias, percalços e embaraços
Repentina e persistente melancolia
Corre, deambula em ousadia
Desatina e estrebucha envolta em braços

Vassalo é o fragor que a dor consome
Afago as tristes rugas com a mão
De toda essa vasta imensidão
Sobra a tristeza que não dorme

E, por fim em ti bate certeira
Cínica e sempre repentina
Envolta em laivos de ruina
A típica, vil, cruel rasteira

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Aerogeradores e ambientalistas




Rodou a chave da ignição e num ápice estava já nas curvas e contracurvas da sinuosa estrada que o levaria às outras curvas que lhe toldavam já o discernimento.
Ao longe viam-se as luzes de Lamalonga. No cimo de um monte, já do lado sul, piscavam as lâmpadas sinalizadoras de um aerogerador, praga esta que em nome do progresso, do ambiente e de coisas afins que os políticos se lembravam de inventar, invadia a linha do horizonte e, como um abcesso, toldava todo o bom ambiente visual que por ali se abarcava.
Como normalmente, os problemas ambientais criados pelos citadinos senhores urbanos, acabam por ter repercussões nos aldeões senhores rurais que em nada contribuíram para os criar, mas que a eles e às suas exigências ficam sujeitos.

Armando Sena

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Soldado Persistência




Como tudo na vida, quando estamos prestes a desistir, quando achamos que já não nos resta a mínima hipótese de encontrar pelo menos uma amostra, que seja, do que tão empenhadamente procurávamos, quando estamos prestes a virar as costas ao campo onde a batalha da nossa persistência estava a um passo de ser perdida para os nossos fantasmas do desencanto, comandados pelo general desistência, eis que sem a mínima réstia de esperança, esbarramos com o tal diamante que nem no mais colorido dos sonhos tínhamos a ousadia de vislumbrar.

P.S. fraquinha a foto, sorry

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Viagem



"Ouvindo o apito emitido pelo comboio, avisando de que era tempo de partir, aproveitou também a deixa e diligente dirigiu-se para a carruagem onde tinha deixado as suas coisas.
Com um sorriso, estendeu-se à vontade num banco de três pessoas todo para si.
Sabia que a seguir parariam na Rede, do lado esquerdo veria o verde das encostas, o xisto dos socalcos, os cruzeiros do Douro vendendo ilusões, os carros a serpentear na estrada uns metros abaixo. O sol, o mais brilhante sol do seu mundo refletindo os seus raios nas pedras dos vinhedos, dando de forma leal o seu contributo para a criação do mais nobre dos néctares.
A seguir viria o fresco trazido pela verdejante paisagem do concelho de Baião, depois o Tâmega…
Nesta parte já o sono tomava conta do mapa turístico que era a sua cabeça. O sono, que nem a vontade e a certeza quase absoluta do paraíso, conseguia vencer."

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Apetece-me




Apetece-me escrever,
Passar às letras o que aqui dentro vou desfiando
Aliviar a carga
Acrescentar ao dito, ao escrito
Pensar que escrevendo
Vou libertando,
E seguindo nas asas da pena
As penas me escorregam pelas letras.
Apetece-me escrever!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Perspectiva




Perspectiva que de uma forma ou de outra te encaminha,
te ilude, te engana, te tendencia.
Por caminho ou carreiro, a um nível mais elevado
Pela areia oblíquo ou concorrente
com rasto de um descalço pungente.

Ao longe, a miragem, a desenvoltura da liberdade
O rebentar de uma onda, o sonho do vazio
A procura do escape
A ignorância como busca do saber!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Noturno


Agora que os dias se vão e as noites se alongam, ficam ainda na memória as cores quentes das efémeras noites de Verão. Do ritmo das luzes ao brilho da estrada, das casas onde já houve vida e das vidas onde já houve histórias.
De tudo isto se fez a vida, de todas as vivências se fazem os momentos, que embalando-nos nos ludibriam no efémero caminho para o infinito.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Insurreição


Sim. Se me perguntarem o porquê de me insurgir contra a leve brisa que sem querer, sem nada fazer para o provocar, desgrenha e descompõe o que não lhe pertence. Imiscui-se e aventura-se pelo que é alheio e em desalinhado desvario o pânico provoca. Se me perguntarem se é meu esse direito e que fiz eu para o merecer, que prazer, que vontade essa de me ludibriar a mim próprio e questionando o que é natural, me sentir empurrado para a indefinição.
Que sorte, que provocação, quem me mandou a mim mesmo questionar-me. E porquê a brisa, essa bem amada e inefável criatura? A que nos ameniza a tortura do tórrido calor de verão.
......
Excerto...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O que há-de vir


No lento e pachorrento começar da jorna, estremunhados ainda do sono mal terminado, não era a deslumbrante vista com o Douro ao fundo, que os alegrava.
Essa, a do cartaz turístico, para eles estava mais que batida. O que os fazia seguir, era o ganha-pão, os cobres que por ali se podiam conseguir naquela altura do ano e iriam servir para amenizar o inverno.
Bem, no mais imediato, também os fazia andar para a frente, a certeza que pouco depois das nove, haveria o mata-bicho. O cheiro ao bacalhau frito, as rodelas de salpicão, o queijo e a marmelada eram garantidos. Haveria mais adornos com certeza e tudo acompanhado pelo pão centeio do Tua e regado com o tinto da colheita anterior, servindo de mote e premonição ao que por ali se praticava e que teria continuação no lagar, nas cubas, nas pipas e nas garrafas. Algumas, bebidas por ali, outras a decorar montras de lojas por esse mundo fora, levando mais além o nome de uma região, a bandeira de um país que possuía como petróleo, como riqueza primária, um néctar aconchegante do corpo, da alma e até de algumas carteiras e contas bancárias, fosse em Portugal, no reino de sua majestade ou em outra qualquer parte do mundo, pois para as gentes da região, para além do orgulho de terem o melhor vinho do mundo, pouco mais restava. O resto era literalmente paisagem.


P.S. Excerto do que há-de vir!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Castanho expectante

Pinceladas de fim de verão
O tempo evoca outrora
e as lembranças

No rosto estampado o verde errante
Pelo peito reflectido
Um castanho expectante

Nas costas tatuado em letras graves
Suportado por sumptuosas traves
O vil  e generoso
Vermelho verdejante

Mais um passo, uma légua
Uma vida!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

... e mais um verso




Lês a minha alma na primeira palavra
Essa forma anárquica de remar
Cada verso um novo desafio
Desvendas-me, descobres-me, desmascaras-me
Do ventre o interstício a algazarra
Desfias-me no lento percorrer de vista
Divisas-me de forma opaca e sempre hermética
Sumária a análise que o tempo morre
Concluis-me sem me soletrar
Tudo se resume num ponto final
…e mais um verso!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O fim do princípio


Agora, que parece que o fim do verão dá início ao seu começo (!!!), é tempo de lazer, de frescura, leitura e recolhimento. Há também quem trabalhe...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Vereda



Estás só no meio dos teus pares
Que é feito do tempo?
Qual o sentido da ressaca?
Sobes para o lado
Desces para baixo
E por sendeiros exíguos
Veredas, calheias e estrumeiras
Poeira, escolhos à mistura
Tropeças, morres ressuscitas
Sempre há uma réstia
Uma ténue ligação ao infinito

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

terça-feira, 30 de agosto de 2011

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Childhood's end



Um título de uma brutal canção tão velha como eu.
Um hino, como tantos outros. O fim de um ciclo,
o começo da vida,
o enterrar dos sonhos.
Ou o despontar de uma nova era?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

À Procura do meu Ser


Do que é composto o vazio?
De preto e branco, azul celeste
Da reunião secreta de um trio
Na esplanada da vida que viveste

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Repouso


E que uns dias de descanso,
o tranquilo repousar das ondas,
em espuma e sonhos transforme
o que sobra da imensidão das noites

Boas férias

terça-feira, 12 de julho de 2011

Açucada


Da linha imaginária que há-de vir
Aninhada sobre cinzas rarefeitas
Na esperança de faustosas colheitas
O martírio e o tormento hão-de ruir

Do alto planar do gavião
A presa que consegue seduzir
Crendo que efeito há-de surtir
Reduz a incerteza à solidão

Com a meta mesmo ali à mão
Ciente que de si não vai fugir

terça-feira, 21 de junho de 2011

Estio




Estio

Despojos de uma luta incandescente
Desaguas a tua alma no vazio
Perdes o alento no bafio
Rumas a um porto indiferente

Da jangada o leme inexistente
Do peito desprovido o coração
Árido como a vasta imensidão
E pobre como a liberdade ausente

Da rocha a dureza subtraída
Do fogo sonegado o ardor
Da vil à misericordiosa dor
A um passo da alegria prometida

Mas tudo é perene, voraz, enganador!   

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O que te anima?




O suave sentir do fim da tarde
O enganador idílico pôr-do-sol
O nostálgico enfadonho anoitecer
O efémero e ilusório sonho
O irritante e pontual acordar
O revigorante fresco do banho
O potente e violento trovejar
A chuva triste e sensual
O enleio do vento tentador
O dia que de novo te guiar
Ao fim da tarde
Ao pôr-do-sol
Ao anoitecer

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Persistência


Da nesga de sol que rasga a penumbra
Do ténue raio de luar
Da brisa que suave o rosto toca
Da fúria da onda de branco mar
Da púrpura seda que te despe
Da prata mais fina que existir
Da árida paisagem e solo agreste
Da ribeira que a seca há-de gerir
Da infinita linha de horizonte
Do barco que insiste em navegar
Da margem que é unida pela ponte
Do melancólico e perdido olhar

De tudo isto é feito o querer
De tudo isto é feita a persistência
Posterior a um acto de demência
Desistir é ainda pior do que morrer

terça-feira, 17 de maio de 2011

Na Demanda do Ideal - Apresentação

Está já agendada a apresentação do meu primeiro romance "Na Demando do Ideal". A todos os que têm partilhado comigo este blogue estendo o convite. Seria mais que uma honra, um grande prazer poder partilhar este momento convosco.
Desde já o meu sincero agradecimento.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Caíu-me o céu


Caíu-me o céu
Sem estrondo nem explosão
Evidente pela ausência do trovão
E óbvio pelo que o antecedeu

Não tocaram as sirenes
Os alarmes não soaram
Do âmago inútil brotaram
Essências e perfumes tão perenes

O tempo corre
Escoam-se as horas
Todos os minutos que demoras
A decifrar aquilo que em ti morre

Alavanca de Arquimedes
Balança de mercador
Agudiza a ténue dor
Pois matá-la não consegues